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Novelas, chegou a hora de vosso fim

14 de setembro de 2009

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Eu nunca gostei de novelas. Ok, essa é uma informação mentirosa, já que quando criança a osmose me fez acompanhar algumas delas (nunca esqueço do Albieri chorando e dizendo: “eu consegui clonar um ser humano” – ou algo assim). De todo modo, o fato é que desde o meu desprendimento de determinados valores padrões condicionados em minha infância, passei a não gostar mais desse tipo de produção. Parei de acompanhar e percebi a existência de outras coisas melhores para se assistir (ou seria “olhar”, como dizem os sulistas?).

Aos dezesseis anos de idade, tive o prazer de entrar no universo dos seriados, principalmente americanos, mas adicione à lista algumas excelentes séries inglesas e umas poucas mini-séries e séries brasileiras. Foi nesse momento que descobri algo novo, excitante, bem produzido e que me proporcionava as mais variadas sensações. E não estou falando de filme pornô, o que é ainda mais incrível! Foram as séries que me fizeram perceber o quanto podemos nos entreter com produções de alta qualidade na televisão (ou, no meu caso, pelo computador), sem tentativas insanas de ditar nosso comportamento ou condicionar nossas idéias e jargões.

Há décadas o povo brasileiro é massacrado pela terrível qualidade televisiva, sempre trazendo programas tão patéticos que fazem qualquer fã da BBC ou HBO chorar de ódio. Ok, não podemos dizer o mesmo da Fox News, mas que se danem os gringos neste caso. O fato é que a televisão muito influencia o comportamento de um povo e, ironia que só, justamente num dos países onde mais se assiste TV é onde podemos encontrar uma das mais manipuladoras programações. O histórico de manipulações da líder de mercado, Rede Globo, vai muito além do que poderia escrever em um simples post (para tal, sugiro que assistam ao documentário “Muito Além do Cidadão Kane”, produzido pela já citada BBC de Londres), mas não é somente na manipulação que encontramos problemas. Os programas, desde os humorísticos até as telenovelas de drama, são de um terror assombroso no que tange todos os quesitos técnicos para se ter uma boa produção, mas o principal deles é, sem dúvida, o roteiro. A superficialidade, o imediatismo e o incentivo pela cultura do gozo são marcas presentes em abundância na grande maioria das produções televisivas, resultando num desfecho que só podemos avaliar como nocivo para a sociedade

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O que podemos dizer de programas como o Zorra Total? Ou a novela Mutantes? Como avaliar Malhação? Estamos às vésperas de mais uma novela sobre a alta sociedade carioca do Leblon protagonizada por uma Helena e dirigida pelo Manoel Carlos e o que vemos? Inércia.

Mas o paradigma está mudando. O povo brasileiro, principalmente a geração jovem de acesso ilimitado à Internet, já começou a questionar, iniciando um movimento que me enche de esperanças. Recentemente, numa palestra com Fernanda Montenegro, fui contemplado com as seguintes palavras da genial atriz:

“O modelo de novelas está acabando, é apenas uma questão de mais alguns anos. O mercado foi invadido pelos seriados e pelas sitcoms americanas e esse será o novo modelo de televisão”.

O auditório inteiro, composto por atores e pessoas ligadas ao mundo da comunicação, foi aos aplausos. Meus gritos de “viva” ecoaram pelo salão. A situação finalmente está perto de melhorar, a internet proporcionou o acesso ao conteúdo de qualidade. Como alguém pode se conformar com “Caminho das Índias” quando tem a opção de assistir “House”? Pois é exatamente isso o que vem acontecendo e, aliado ao fato das outras emissoras ganharem cada vez mais espaço (vide Record e SBT), o trajeto está pronto para a adaptação.

Há mais de dois anos, a Record passou a investir pesado em seriados, comprando os direitos de exibição de séries como House, CSI, Monk, Heroes, entre tantas outras, embora esbarre ainda no egoísmo pleno da Rede Globo que, por exemplo, comprou os direitos da primeira temporada de House só para a Record não poder transmití-la (pasme, esse pensamento jurássico existe na TV brasileira). O SBT, em contrapartida, comprou Cold Case, Grey’s Anatomy, One Tree Hill, Pushing Daisies, Supernatural, The OC, entre outras. E mesmo a Globo, com Lost, Prison Break e 24 Horas, deu o sinal verde que todos esperávamos: a situação vai mudar. Claro que ainda temos problemas sérios, como os horários de transmissão, normalmente tarde da noite, e a dublagem tenebrosa, situação que já mudou para os que têm sinal digital e a possibilidade de ativar closed captions. Porém, tudo isso faz parte do processo de adaptação das emissoras para a nova realidade.

Querem o sinal de que tudo está mudando? Pois vejam isso: Seriados ganham o HORÁRIO NOBRE do SBT.

E então, será que agora vai?

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